Acabo de ler “Só garotos”, de Patti Smith. Um
livro regado de trechos que quase arranca dos olhos lágrimas e faz o coração, por pouco, sair boca fora. A história de Patti Smith e Robert Malpplethope é uma história
de amor, superação e felicidade, mas também de muito sofrimento e tragédia. E por
que não terminar uma história em morte? Se é assim que a vida acaba. A morte
faz parte da vida, a partir do momento em que se nasce, o que se faz todos os
dias é morrer um dia de cada vez. E por isso me identifiquei tanto com o livro.
No inicio Patti começa falando de vida, mais precisamente do inicio da sua, ao
narrar trechos dos tempos de quando era criança.
Com as lembranças de Patti acabei remetido às minhas.
Me perdi por completo, voltei no tempo junto com a autora. Sabe quando está
lendo um livro e já se foram duas ou três páginas sem saber o que acabou de
ler? Foi exatamente o que aconteceu. E depois essas lembranças me fizeram olhar
pra trás e perceber que às vezes é melhor olhar pra trás e analisar o que já
foi vivido do que planejar o futuro. Uma das lmbranças descrevo a seguir:
O Natal se aproximava, e com ele o frio que sempre odiei.
O frio sempre me deixa angustiado, desperta em mim um sentimento de tristeza,
isso ocorre até hoje. Por vezes tenho vontade de me mudar para o sul do país pra
viver na melancolia, pelo menos quando estou triste sou menos irracional.
Durante o frio costumo refletir mais sobre a vida, sobre as coisas que faço
dela. Talvez seja por isso que a maioria de minhas lembranças sempre ocorrem nas
temporadas de frio. Mas quando penso que todos os dias do ano terei que
conviver com o frio, prefiro viver na irracionalidade parcial. E assim como não
gosto do frio, também não gosto do Natal.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_s1ot812Eap-bk0eyQGJ9Kut53w8-2TCx2H0O78c_qnvuZX2MG8IuNTcqlspF6fBwSTFv66sGm-nIiTE63FcZR65lmQ56Lv-T-3j6SXjxNCm79XKPfu9algc7ViYkmc2hmuwTqHRAiG2n/s200/minigame.jpg)
A velha casa que existia bem antes do meu nascimento
ainda continua lá, parece que bem sólida. A senhora que nos vendeu o aparelho
ainda continua viva, muito velha, não tão sólida quanto a casa, mas viva. A
loja não existe mais, o Mini game também não. Como é bom relembrar os tempos de
criança, parece que foi ontem: meu irmão querendo brincar comigo na sala e eu
nem bola dava, só queria saber do meu brinquedo eletrônico, parecia uma criança
de nossos tempos, que troca os amigos pelo computador. Ficava eu, trancado no
quarto da pequena casa construída de pedras de muro e telha brasilit. Uma casa
muito simples que em período de frio fazia eu me sentir no Alasca, no período
de calor me fazia sentir no Egito.
Não tínhamos muito dinheiro, pra ser sincero, não
tínhamos dinheiro algum. Mas criança não entende, quando quer, não para de
chorar até conseguir. A velha, sensibilizada com meu pranto incessante, fez
minha vontade e mesmo sem ter muita intimidade com minha mãe deu a ela a
oportunidade de pagar o equipamento a prestações. Tenho minhas dúvidas se a
dívida não foi esquecida por ambas. De uma coisa eu sei, eu esqueci, só queria
saber de jogar.
O Natal não foi tão diferente dos outros, mas foi o
melhor da minha infância. Os Deuses foram generosos comigo, mas tudo que os
Deuses dão, tiram rapidamente. A mesa continuava humilde, a arvore era pequena,
o frio continuava chato, mas pelo menos eu tinha um Mini game, que logo os
Deuses se encarregaram de fazer com que eu perdesse.
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