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27 de setembro de 2011

O homem que nasceu para reclamar

PEQUENOS CONTOS Por André de Castro

Aquele barbudo, não tão velho, que morava sozinho naquela imensa mansão, rotineiramente, reclamava do barulho da porta, principalmente ao abri-la quando chegava cansado do trabalho.

E era sempre assim, reclamava, colocava sua maleta na mesa, sentava na caríssima poltrona da sala, fechava os olhos e por ali ficava a pensar por um longo tempo. Depois subia as escadas e ao pisar nos degraus sempre lembrava que aquela madeira lhe havia custado os olhos da cara.  Entrava em seu quarto, que também não era nada modesto, e começava a se despir. Primeiro a gravata depois os sapatos.
Era tão arrogante que humilhava os empregados da casa constantemente, bastava algo estar fora do lugar.

Em algumas noites saia para beber, sempre bebidas caras, acompanhado de prostitutas de luxo, sempre uma diferente. Por vezes ficava sem dizer nada toda a noite. Quando a mulher lhe dirigia a palavra, olhava com despreso, deixando bem claro que ela era apenas um produto. E não ligava muito para as pessoas, não tinha um amor. Não gostava da rotina que levava, também não fazia nada para mudar.

Certo dia acordou disposto a fazer algo diferente. Não foi trabalhar e, logo de manhã, mandou a governanta chamar o motorista, a cozinheira e todos os outros cinco empregados da casa. Despediu todos e ligou para seu advogado, ordenando que providenciasse as demissões. Saiu de casa com intuito de acabar com aquele barulho da porta que tanto o incomodava. Foi em direção ao posto de combustível, comprou 20 litros de gasolina. E da porta só sobraram cinzas. A escada e o resto da casa tiveram o mesmo destino da porta.

Agora velho, continua a reclamar, só que das esmolas, quando não são suficientes para comprar um prato de comida.

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