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13 de dezembro de 2011

Minha primeira confissão

PEQUENOS CONTOS Por André de Castro

Pecados e mais pecados. São como o ar que respiramos, sem eles não conseguimos viver.

E não é novidade pra ninguém que nunca fui "santo", nem nesta ou em qualquer outra vida. Foi no final de 1999, com 12 anos, no auge de minha puberdade, quando resolvi me confessar pela primeira vez. O padre, todo desconfiado, me pressionava o tempo todo. Na hora eu pensei; se isso é a salvação da alma (como todos diziam) eu não quero nem saber o que  é tortura.

- Meu filho, andou cometendo atos impuros nesses últimos dias?
- Não seu padre, eu nunca fiz nada de errado.
-Então me conte, o que lhe trás até aqui? alguma você aprontou.

Neste momento comecei a tremer. Tirando o fato de ter quebrado o vidro da paróquia com um estilingue, na semana antecedente, não tinha feito nada de errado mesmo, mas, achava que padre tinha poderes de ler a mente das pessoas e sabia quando estávamos mentindo. Padre para mim era uma espécie de bruxo do bem, um super-herói que salvaria toda a humanidade queimando os vilões na fogueira de algo que mais tarde fui descobrir, se chamava inquisição, e nem sempre quem era queimado eram vilões. Quando era perseguido por alguém na escola, não ameaçava chamar meu irmão mais velho, eu dizia; "vou chamar o padre pra você", e eles me deixavam de lado.

Meia hora de conversa, depois de muita pressão não suportei e acabei cedendo, subitamente o interrompi.

-Seu padre, eu enfiei o dedo.
-O QUE?
-É, eu meti o dedo com tanta força que chegou a sair sangue. E depois ficava colocando e tirando, colocando e tirando...
                               
O confessionário começou a balançar. 

-Meu filho eu não acredito que você fez isso, disse o padre.

Por um momento imaginei aquilo tudo desmanchando com tanta euforia. Imaginei a tela de madeira que nos separava quebrando e o padre me puxando pro lado de lá, me esganando ali mesmo pelo grande pecado que cometi. Mas acalmou-se, abaixou o tom da fala e falou lento, tão lento que quase dormi. Iniciou um longo sermão.

-Pede perdão, pede perdão a Deus pelo seu pecado. Você se arrepende desse ato tão feio? Se arrepende dessa impureza?

Não estava entendendo nada. Mas em fim consegui terminar a frase.

-Padre, enfiei o dedo foi no nariz!

-Há filho, mas isso não é pecado é imundice! Santo Deus, Saia daqui seu porcalhão.


Este pequeno conto foi baseada na infância, ou não (talvez tenha inventado), de Zuenir Ventura.

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