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11 de maio de 2011

Tão perto, tão longe

Mulheres estão distantes da igualdade na política


Geralda Godinho, administradora do Riacho Fundo II.
Na Grécia antiga já se discutia a inserção da mulher em cargos de poder. Platão, por exemplo, foi um dos grandes defensores da mulher. Dados do Dicionário Enciclopédico ilustrado SAV (Sexo amor e vida) de 1968, obra originada do trabalho de diversos especialistas e médicos, diz que o filósofo pregava a abertura de todas as carreiras e oportunidades para todos os sexos. Aristóteles, ao contrário, influenciado pelos preconceitos da época, caracterizou a mulher como “um desenvolvimento interrompido”. E foi mais além: “quando a natureza erra na fabricação de um homem, sai uma mulher”.


Um salto no tempo: da Grécia Antiga para o Brasil do século XX. Em 1933, a médica pedagoga Carlota Prereira de Queirós se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de deputada federal. Depois disso, se passaram longos 77 anos até que uma mulher conseguisse chegar ao cargo de presidente.

Mas o fato de hoje uma mulher estar à frente do Poder Executivo não significa que elas conseguiram igualdade na participação política. Eliana Magalhães Graça, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômico (INESC) e ex-integrante do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), afirma que a baixa participação da mulher nessa área não se deve à falta de interesse. De acordo com ela, o fator primordial é “o embarreiramento”.

Segundo a especialista, “hoje temos uma estrutura de poder machista e patrimonialista”. As barreiras começam na organização política. Os partidos, em geral, não têm uma política de inclusão das mulheres na vida partidária. “Logicamente, com isso, há poucas que se dispõem a serem candidatas”. Eliana afirma que entre homens e mulheres ocorre uma disputa desigual com o poder econômico e político, porque os homens controlam a máquina partidária. Por isso mesmo, uma das lutas dos movimentos feministas é a inserção da mulher na política, afirma.

Outro fator desestimulante apontado por Eliana é a “avaliação negativa que hoje a maioria da população faz da política”. Para ela, as mulheres ficam receosas de entrarem nessa arena, preferencialmente dominada pelo homem.

No Distrito Federal, apenas cinco mulheres aparecem à frente das administrações regionais, enquanto os homens são 25. Apenas quatro mulheres comandam secretarias de Estado, enquanto os homens, 31. E entre os 24 deputados distritais apenas quatro são mulheres.

As dificuldades para a mulher chegar ao poder são muitas. Geralda Godinho Sales começou sua atuação política em 1985. Estava à frente da primeira greve ocorrida em shoppings no Distrito Federal. Passou pelo movimento sindical e foi da diretoria da Central Única dos Trabalhadores (CUT). É a atual Secretária Geral do Sindicato dos Comerciários, cargo do qual deverá renunciar por ter sido nomeada administradora do Riacho Fundo II em 2011.

Quando assumiu o Sindicato dos Comerciários no DF, Geralda sentiu a discriminação na pele. “E na administração do Riacho Fundo II não é diferente”. Ela coordena a região administrativa há dois meses e afirma que as pessoas sentem insegurança em ter uma mu-lher na chefia. “Eu sinto isso. Quando a coisa ‘pega’, a concepção que a maioria tem de nós [mulheres] é que vamos chorar, nos descabelar. Precisamos provar nossa força nas tomadas de decisões, e estamos provando.”

Maioria silenciosaDe acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada no Distrito Fe-deral entre 2000 e 2010 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em parceira com a Se-cretaria de Estado de Trabalho (SETRAB), as mulheres estão melhores qualificadas para o mercado de trabalho do que os homens.

Elas são maioria nos cursos superiores e nos cargos de gerência. Porém, os salários são menores, comparados aos de homens com o mesmo nível profissional. Isso significa que “ainda temos muito a caminhar, muitas barreiras a romper, muita discriminação e preconceito a combater”, afirma Eliana Magalhães.

Tanto a especialista quanto a administradora acreditam que Dilma Rousseff na Presidência é uma quebra de paradigmas. Geralda se diz otimista quanto à participação da mulher nas próximas eleições: “Se a mu-lher chegou à Presidência, pode chegar a assumir qualquer outro cargo”, conclui. Eliana ressalta a importância de se ter uma mulher à frente do Palácio do Planalto. Ela acredita que “influencia o imaginário da população feminina como possibilidade ao alcance de todas”. Mas é preciso ir além do simbólico, reforça: “Há que ter políticas públicas concretas de estímulo e de combate à discriminação contra as mulheres”.

Quando se trata de mulheres no poder nos deparamos com um fator mais agravante, segundo observação de Eliana: “Com certeza não estamos falando de mulheres pobres e negras”. Essas mulheres, em especial, recebem os piores salários, são excluídas do acesso aos serviços públicos básicos e não chegam aos cargos de direção. “Quando isso acontece, é uma exceção que confirma a regra”, afirma.

As cotasGeralda declara que destinar um determinado número de vagas para as mulheres em todas as esferas de poder e nos cargos comissionados “não resolve o problema, mas ajuda”. Eliana tem a opinião de que as cotas como medidas de ação afirmativa para diminuir desigualdades são uma boa alternativa, ainda que por determinado período de tempo. “Se deixarmos pelo fluxo natural a igualdade não será atingida nem no próximo século”, sustenta a especialista. Garantir esse espaço de participação para as mulheres é uma forma de acelerar o processo de obtenção da igualdade, completa.

Longa trajetóriaFoi em 1932, no governo de Getúlio Vargas, que as mulheres adquiriram o direito de voto e de candidatura. Pouco antes da década de 1970 a mulher não podia nem ter negócio próprio sem autorização do marido, previamente autenticada e registrada em cartório. Da mesma forma era o voto: sem autorização não se podia exercer o direito. Agora, já são chefes de estado, deputadas, gerentes, chefes de polícia e até ‘presidentas’, como gosta de ressaltar Dilma Rousseff.


Matéria publicada no Jornal Artefato da Universidade Católica de Brasília

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