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14 de junho de 2011

O Menestrel da Saudade

De Brasilia para o mundo, o Papa fez questão de levar um de seus cordéis para o Vaticano












Por André de Castro
Ele não larga a viola por nada. Responde a maioria das perguntas com versos e quando perguntado quem ele admira não se refere a personalidades midiáticas. Fala de pessoas próximas, amizades que plantou cultivou durante a vida.
Eduardo Manoel dos Santos, o menestrel da saudade, como gosta de ser chamado, nasceu em São José do Egito, Pernambuco. Está a 51 anos em Brasília. Tem 18 irmãos. Diz que foi morar em Brasília por causa da seca do Nordeste. Foi para capital com 19 anos e hoje está com 71. Começou a cantar e escrever cordéis ainda nos tempos de menino.
 Tem orgulho em dizer: “Eu que fundei a casa da cultura nordestina em Planaltina”, Goiás. A sede fica na sua própria casa, ainda em fase de construção. O imóvel está sendo tombado com o dinheiro que ganhou em prêmios pelo seu trabalho. Será composta por auditório, churrasqueira, arquibancada, casa de apoio, nos fundos e, um sobrado na parte da frente.
Manoel não olha nos escritos para narrar os versos, às vezes a memória lhe falha. Más o seu primeiro poema, composto em 200 versos e escrito a mais de 50 anos, continua vivo em sua memória. “Se chama Madalena” revela de peito erguido.
O dedo que falta na mão de Manoel não o atrapalha no manuseio da ritmada viola. Disse que perdeu cerrando madeira. Ao ser perguntado quantos cordéis já fez responde ter feito uns 12 ou 15. Referia-se a livros. Quando criança a mãe lhe dava dinheiro pra comprar pão. Pegava o dinheiro e comprava livros. Fato que lhe inspirou a criar um outro cordel. E parece que toda sua vivencia acaba virando verso. O primeiro namoro em Brasília. A mãe e os irmão também tem um versos relacionados: “...A se eu tivesse a virtude/ de fazer voltar os anos/ quando eu ia no açude/  tomar banho com meus manos..”
E quando começa a narrar seus versos não para: Passa de um para o outro, sem perder o ritmo. Em suas pesquisas sobre a Brasília um personagem chama sua atenção: “...Brasília de JK/ tem uma imensa família/ que ocupa uma grande área/ com ruas prédios e mobília/ orgulho do meu Brasil/ a nossa linda Brasília...”  Outra estrofe revela detalhes da sua relação com o surgimento da capital do Brasil: “...Eu mesmo a vi nascer/ e  brilhar neste planalto/ e vi o cerrado orvalhado/ sem ruas nem asfalto...” “...No dia dois de outubro/ do ano cinqüenta e seis/ JK com seus ministros/ um avião muito alegre fez/ para o centro do planalto/ numa pista sem asfalto/ pousou a primeira vez...”
A arte do cordel vem de família. Por vezes os cordéis são compostos por eles, outras vezes, acabam se transformando em cordéis. Como é o caso da filha que o Menestrel da Saudade um dia perdeu: “...A morte ingrata e malvada matou minha Daniela/ Nem a polícia me para se eu chorar na cova dela...”.
Em maio de 2007 foi até Aparecida do Norte, esteve frente a frente com o Papa Bento XVI. Diante da santidade ficou sem palavras, e então empunhou sua viola e os versos foram surgindo: “Tu és o sucessor de Pedro/ e de cristo o mensageiro/ parabéns aparecida/ por teu ilustre romeiro/ esse é o segundo Papa/ que pisa o chão brasileiro/ com tua santa visita/ o Brasil está sorridente/ São Paulo está feliz/ e o nosso nordeste quente/ no ano dois mil e oito/ nos visite novamente.” O papa parou para vê-lo. E Levou consigo o poema para o vaticano.
 Um professor universitário chamado Lunde Braghini convidou o cordelista para participar de uma de suas aulas. Para pouco menos de 20 alunos o Menestrel da Saudade apresentou parte de sua obra. Respondeu perguntas, conversou com os jovens e fechou à aula homenageando, de improviso, o professor que ajuda a disseminar a cultura oriunda do Nordeste no meio universitário: “Quando eu pego na viola/ já vou fazendo meus planos/ o professor é com certeza/ um dos nossos veteranos”.

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