Por André de Castro
prometo ser falso até o dia em que puder me deitar de sapatos e não mais abrir os olhos.
Eu
vejo pobres dormindo na calçada
putas
exalando perfume barato
palhaços
chorando
eu acredito no amor
essa
coisa maluca chamada vida
o
encontro dos desiguais
onde
tudo é selvagem, suculento
onde
tudo é normal
e de mentira
e
esses gemidos
essas
palavras impuras
esses
tapas
são
apenas os gemidos do quarto ao lado
tudo
escarnece
o
suor
o
pudor
a
lágrima que escorre
e
se mistura aos soluços
e
esses hospitais
asilos
prisões
políticos
polícia
pra
que serve tudo isso?
e
por onde anda aquele que irá nos salvar?
no
lugar dele vem ela
a
senhorita fome
sorrindo
à porta
entrando
sem pedir licença
cantando
aos surdos
encenando
aos cegos
ouvindo
os mudos
com
sua foice
e
sua cara de morte
degolando
os malditos
a
fome
novamente
pelas entranhas
e
a boca
que
de tão escancarada
não
diz uma só palavra
só
quer cigarro cereja cerveja
essa
coisa chamada vida
não
passa de um banquete etílico
onde
os vermes fazem festa
e
torcem para que tu morras
e
o teu fétido corpo lhes sirva de jantar
como
podem seres tão ordinários fazerem festa todos os dias?
como
podem rezar para que outros morram e assim não lhe faltem o que comer?
Pois bem, meu caro senhor
a
criança está assustada
como
um miserável sem casa
em
um domingo de sol
na
areia
com
os pés molhados
ferrado
pela maldita abstinência
a criança está assustada
pois descobriu que não mais conseguirá mudar o mundo
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