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14 de março de 2010

O Papel da instituição

Num tempo em que os homens ainda não se alimentavam da carne de animais, um incêndio consumiu um bosque onde havia inúmeros porcos. Alguém que por ali passava, após a extinção das chamas, resolveu experimentar aqueles porcos assados e descobriu que eram palatáveis. Logo a notícia se espalhou e os homens passaram a comer porcos assados, que eram então preparados da maneira original, isto é, reuniam-se os animais num bosque e ateava-se fogo à vegetação. Esta instituição de cozimento de porcos foi crescendo e começaram a surgir especialistas: especialistas em tipos de bosques, em ventos, em atear fogo no setor norte, no setor sul, leste, oeste, especialistas em reflorestamento, especialistas no ponto da mata em que os animais deveriam ser colocados, etc. Enfim, toda uma parafernália para fazer progredir e aperfeiçoar a instituição foi criada.
Realizavam-se então congressos anuais onde técnicas e inovações dentro de cada especialidade eram apresentadas e discutidas. Até que um dia um indivíduo procurou o presidente da organização e apresentou-lhe uma proposta que implicaria uma radical mudança na instituição, talvez no seu fim: bastaria que os porcos fossem mortos e colocados numa grelha, sob a qual se acenderia uma pequena fogueira. Imediatamente o presidente fez-lhe ver o absurdo de sua proposição, pois que ela geraria o desemprego para milhares de especialistas, além de abalar a confiança que o restante da sociedade manifestava com relação ao saber que eles detinham. Mostrou-lhe ainda que, pensando daquela maneira, revelava-se um perigoso elemento subversivo que poderia levar a sociedade ao caos, ainda mais ao propugnar métodos violentos que implicavam os homens matarem os animais com suas próprias mãos. O presidente então, num rasgo de "generosidade", disse ao dissidente que daquela, vez ele seria perdoado, mas com a condição de nunca revelar a ninguém aquela idéia tão herética. E assim os homens continuaram a atear fogo nos bosques e a instituição foi mantida.

DUARTE JUNIOR, João Francisco. O que é realidade. São Paulo: Brasiliense, 2004. 10ª edição, 5ª reimpressão (1ª edição: 1984), pag 61, 62.

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