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30 de julho de 2013

Os dedos da mão

Por André de Castro

Eu tinha vinte e poucos anos e agora tenho vinte e tantos. A cada dia que passa o tempo me exprime em direção ao desconhecido.
E as pessoas que eu conhecia estavam a cada dia pior. E os que já estavam na pior agora estão pior ainda, ou mortos.
Eles geralmente passavam o dia todo trabalhando, estudavam durante a noite por meio de um financiamento do governo que se converteria em uma dívida que os deixaria a pensar que pertenciam a uma nova classe. Na verdade eles estavam sendo moldados para protagonizarem na transvestida escravidão moderna.
Dentes careados, olhos com pé de galinha, olheiras, cicatrizes, almas despenadas, feridas que nunca se fecham.
Havia sobrado alguns poucos caras com sorte, tinham grana, belas mulheres, carrões. Mas bastava os conhecer de perto para perceber que estavam fudidos.
Os padres rezavam todos os dias, as mães rezavam todos os dias, os seguidores rezavam, os fieis e pastores, todos eles se ajoelhavam e aceitavam as coisas. Agradeciam por elas, tinham esperança que iria melhorar. Só eu não rezava. Eu não acreditava que mudaria ou que um dia seria melhor. Eu simplesmente aceitava por não ter coragem de tomar a decisão certa.

Geralmente a decisão certa é a coisa mais difícil de se fazer. Você sabe que deve fazer, mas não faz.

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