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22 de agosto de 2013

Vendidos calados

Por André de Castro


Certa vez o escritor americano Bukowski anotou que todas as pessoas depois dos trinta acabam se vendendo ao sistema. E afirmou que sente vergonha dos que tem menos de trinta, pois um dia eles também vão se vender.

Sabe-se lá o porquê, mas de repente eu me calei. Eu continuava a ver as coisas acontecerem de um ângulo privilegiado. Eu via garotos imundos dormindo na calçada da meia noite. Homens entrando em decadência pelo efeito da entorpecência. Engravatados matando milhares, indiretamente, por desviarem as verbas da saúde, da educação. Madames se ostentando do luxo e da falta de dignidade. Homens se espancando na rua. Adolescentes engravidando de velhos pederastas. Crianças, mães de outras crianças.

Eu me calei diante do mundo. Será que eu também me vendi?


E os jovens acreditavam que iriam mudar um país pelo fato de terem subido a rampa do poder. Eles não sabiam, eu não sabia. Seria tudo em vão. A memória é fraca, tudo se torna esquecimento. Um câncer não se cura com gritos. Mas os gritos servem pra mostrar que esse mal nos causa dor. Uma dor que é de todos nós.

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