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12 de abril de 2010

Crônica: Quando vacinar tira um peso da consciência...


Fila, ai ai ai... Sempre fila, elas estão em todos os lugares. No banco, no restaurante, na rodoviária até pra cortar o cabelo a gente tem que pegar fila. Agora, fila pra tomar agulhada, era só o que me faltava. A fila é pra tomar a vacina de imunização, na Universidade Católica de Brasília (UCB), contra a gripe H1N1. Lá vou eu... sem nenhuma convicção.
 
No dia 5 de abril começou a vacinação contra a gripe H1N1, para pessoas com idade entre 20 e 29 anos (o que me inclui). Vi na televisão, ontem, sexta-feira, 9/4, que jovens de Brasília em idade de vacinação não tem comparecido aos postos. Antes de tomar a vacina, saio conversando com a galera no campus da UCB, com intuito de fazer uma matéria sobre a vacinação.
  
Confesso que, depois de tantas injeções, quando criança, e ainda um pouco meio traumatizado com tudo isso, não estou muito a fim de tomar mais essa agulhada na vida. Na verdade nunca senti muito prazer em tomar vacinas e por menor que seja a agulha, eu sempre dou um pitaco na hora. Não fosse a missão de escrever uma matéria, provavelmente, faria de outros compromissos os mais importantes, só para não ter tempo de vacinar.
  
A loirinha do curso de Engenharia ambiental me diz que tomou e não doeu. Penso se não está querendo dar uma de valentona. Sem saber, acaba me dando uma lição de moral, ao usar o velho chavão do “melhor prevenir do que remediar”. E, continuou:  “as pandemias acontecem por que existem pessoas egoístas que não se previnem e acabam se contaminando e espalhando o vírus pra todo mundo”.
  
A garota do curso de Ciências Biológicas diz que havia tomado e que ficou com mal estar durante o dia Teve febre e sentiu o corpo mole, mas sobreviveu. Um casal de namorados do curso de Psicologia que acabara de tomar a vacina me fala da importância de se imunizar: “o pessoal fica falando que o governo não faz nada, agora que o governo resolveu fazer alguma coisa na prevenção de doenças da população, não tomar a vacina é um absurdo”.
 
Depois de ouvir vários depoimentos como esse, percebo que minha consciência não me dará sossego se não tomar a dose.
 
 – Meu Deus, eu sou um monstro!!!, penso
 
Entro na fila às 11h33. No fim da fila, silêncio. Penso em ir embora. Todos no mesmo dilema? Ao olhar pra trás de mim, percebo que e a fila cresce. Uma garota, próxima, porta um cartão de vacinação. Sinto-me aliviado de ter esquecido o meu. Pergunto-lhe, pra me certificar, se é preciso de cartão. Decepção, ela diz que não. Identidade servia. “Trouxe o meu porque já estava na carteira, mas não precisa”, garante.
 
A fila que era enorme diminui em uma velocidade anormal para os padrões de atendimento no Brasil. Depois de alguns minutos pára. As seringas haviam acabado. O alivio dura até ouvir a enfermeira gritar “acabou, mas a mulher já foi pegar mais”.
  
A esta altura, são duas filas se formadas. Uma para o preenchimento dos dados, e outra na porta da enfermaria para tomar a vacina. Saio de uma, entro na outra, e nada de as agulhas chegarem. Se demorar mais, vou embora. A fila, porém, começa a andar. Não passam três minutos e lá estou eu frente a uma agulha que não é tão pequena assim. Resolvo virar o rosto pra não ver, a garota que portava o cartão está endo vacinada no mesmo momento que eu. Olho pra ela que, ao contrário de mim, parece calma.
  
– “Pronto, pode ir”.
  
– Uê, mas já?

No fim das contas, eu nem percebi que havia tomado a vacina. E ao contrário do que a garota das Ciências Biológicas havia me dito, não tive mal estar, dores e nem febre. Saí de lá às 11h45, e com a consciência limpa, por ter feito meu papel perante a sociedade. 

Por André de Castro

FOTOS DA VACINAÇÃO CONTRA A GRIPE A(H1N1) NA UCB.

    Fila para vacinação contra a gripe H1N1 no bloco “M”
    da Universidade Católica de Brasília.


    Enfermeiras esperando chegar mais agulhas para 
    prosseguir a vacinação.


    Enfermeiras preenchendo os cartões de vacinação.



Fotos por André de Castro



Texto publicado em 12/04/2010 - 13:43 no site da Oficina de Produção de Notícias www.opn.ucb.br

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